Conclusão

No Mato Grosso do Sul se encontram e justapõem três importantes ambientes brasileiros. Em cada um deles se desenvolveram culturas típicas, das quais encontramos representantes característicos no Estado.

As savanas do Brasil Central chegam através do planalto, acompanhadas, já no décimo primeiro milênio antes do Presente, de sítios de caçadores com uma indústria lítica curada, tradição Itaparica. No oitavo milênio estes sítios são substituídos por ocupações de caçadores, com uma indústria lítica expediente, semelhante à da fase Serranópolis. Finalmente, já dentro de nossa era, temos o registro de horticultores ceramistas de grandes aldeias, tradição Aratu. As pinturas e gravuras locais também imitam as mais comuns do Planalto Central.

As planícies aluviais que margeiam o Alto Paraguai e têm similares no vale do Guaporé, no Estado de Rondônia, dão origem aos pantanais. Neles se desenvolveram sociedades cuja economia se baseava na pesca, na coleta e na caça. Seus primeiros assentamentos remontam ao nono milênio antes do Presente. No terceiro milênio já manejam uma cerâmica de estilo próprio, tradição Pantanal, que é partilhada não somente pelos moradores dos Pantanais, mas também pelos caçadores do Chaco boliviano e paraguaio. Seus extensos petroglifos formam um horizonte que, ao longo do rio Tocantins, chega até ao Amazonas.

As florestas que, no Estado, acompanham o rio Paraná e seus afluentes principais, são parte das densas florestas que cobrem São Paulo e grandes extensões do Sul do Brasil. Nelas se desenvolveu a população horticultora conhecida como Guarani. Essas florestas também abrigam uma indústria de bifaces e plano-convexos, usada pelos arqueólogos para caracterizar a tradição Humaitá. Os petroglifos encontrados nos abrigos da serra de Maracaju apontam, igualmente, para as florestas subtropicais do sul do Brasil e do Paraguai.

Se olhamos o resultado do ponto de vista cronológico, temos populações do Holoceno Inicial, do Holoceno Médio e do Holoceno Recente. Se observamos do ponto de vista da cultura, temos amostras de caçadores de terra firme, pescadores-coletores de áreas alagadas, criadores nômades de cavalos, horticultores do Planalto, da Amazônia e do Sul.

Podemos estudar representações rupestres que replicam as pinturas dos abrigos do Brasil Central, os simples petroglifos dos abrigos e blocos rochosos do Sul e as complexas gravuras dos lajedos ligados à água. E posso repetir agora o que falei no começo: O quê os outros Estados brasileiros têm, que o Mato Grosso do Sul não tenha também.

A caracterização das culturas em cada um desses ambientes é incipiente, não havendo, muitas vezes, nem mesmo uma problemática bem definida. Isto é sinal de que resta um longo caminho para alcançar, primeiro, compreensões locais e, depois, uma visão integrada dos fenômenos regionais com a arqueologia do Brasil e da América. Além dos problemas comuns a outras áreas do país, como é a caracterização das culturas, sua formação e evolução no tempo, existem, no Mato Grosso do Sul, questões específicas relacionadas à história e transformação dos vários grupos indígenas que convivem com a sociedade moderna e nela procuram novas formas de sobrevivência.

Agradecimentos: O autor agradece a Fúlvio Vinicius Arnt a preparação das ilustrações e a leitura do texto.

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